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07 agosto 2016

Série: Black Mirror



ESPELHO, ESPELHO, MEU...

Quando meu companheiro de séries e filmes – e de quem eu morro de saudades – me falou que 
Black Mirror era um tapa na cara da sociedade, não me despertou muito interesse. Primeiro, porque essa expressão não me diz muita coisa; segundo, porque ele não soube me contar da série. Mas então fui lá ver e entendi a dificuldade. Esta é uma pergunta recorrente: mas afinal sobre o que trata a série Black Mirror? Qual é a história? Etc. etc. etc.

Dizer que a série fala sobre a relação homem 
versus tecnologia e sobre o que pode acontecer se esta relação não for repensada, é redundante. Até o jeito de ver séries mudou. A década de 80 foi o reinado de Aaron Spelling; em 90, foi a vez de David E. Kelley. Na década de 2000, Jerry Bruckheimer mandava; de lá para cá, as produções se dividiram, a internet passou a gerar conteúdo alternativo e as premiações se renderam a isso. Se antes você esperava pacientemente – até porque demorava mesmo, para chegar e alguns poucos canais, abertos e pagos, distribuíam a programação –, agora tudo se resume à maratonas e episódios interativos. Você assiste a tudo de uma vez e depois fica desesperado na abstinência das mid-seasons.




Com um título que remete à tela que encaramos diante da TV, do monitor, do celular e que está a uma palma de distância, talvez a melhor definição do que trata Black Mirror, seja a do próprio criador, Charlie Brooker, que compara a tecnologia à uma droga – e, como tal, ela transita entre o prazer e o desconforto ou sofrimento – e busca entender seus efeitos colaterais. E é nesta estrutura que todos os episódios são pautados. Tanto que o primeiro episódio é emblemático e diz a que veio, perto do final, com todas as letras: é uma declaração, é provar um ponto de vista que, inclusive, se sustenta.

Para se ter ideia de como a coisa já começa lá em cima, chega um ponto que você começa rir, tamanho o absurdo da situação, a de realmente cogitarem que o Primeiro Ministro da Inglaterra transe com um porco, com transmissão ao vivo, para salvar a vida da princesa pop da realeza. Até a Rainha espera que ele faça isso. A cara do povo, dos telespectadores ao ver a cena, também foi a minha.




Como uma série bem estruturada e a vida, está tudo lá, em todos os episódios, porque não existem consequências limitadas. Então temos o bullying cibernético, a inexistência fora da rede, a ruminação que repete e guarda uma memória à exaustão e cria uma paranoia profissional, a paisagem lá fora e as relações modificadas pelo pseudopoder do anonimato, do bloqueio e da mobilidade, os zumbis que piram sem celular porque a fonte da vida está ali dentro, o botão de compartilhar que é mais importante do que compartilhar algo real com alguém de verdade, o vigiar e punir de Foucault acontecendo na sua frente, a inversão ou potencialização de valores, onde não existe mais o certo ou errado, não existe mais o bom senso. Certo é o que o número de visualizações e curtidas decide. Se for popular, está certo. Se não for, está errado; mesmo que o conteúdo apresentado não agregue nada além de dinheiro na conta de quem o produz; mesmo que dentro de casa sua esposa tenha nojo de você e vocês nem se falem.

A série é uma produção britânica de 2011, que teve duas temporadas e um especial de Natal, em 2014. A terceira temporada foi anunciada para este ano ainda. Com trilha sonora de Abba, títulos de episódios maravilhosos, referências como 
1984 – principalmente no segundo episódio da 1ª temporada –, AI – Inteligência Artificial (e que lembra muito um livro de Laurie Frankel, Adeus, por enquanto), Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e, até, A Vida de Brian, os episódios, embora independentes, são ligados por detalhes.





À parte de que os ingleses sabem como fazer uma série, aquela coisa mais profunda dos países mais velhos e de estar cheio de figurinhas tarimbadas entre os atores de lá, como Jon Hamm e Rupert Everett, Black Mirror é uma produção “tão louca” que é difícil escrever sobre ela e que não dá nem para ter spoiler, mesmo que eu contasse cada episódio; mas dá para ter a teoria de que o caso da youtuber Marina Joyce (#SaveMarinaJoyce) é um viral da série.

Black Mirror não é um tapa na cara da sociedade. É simplesmente excruciante, porque por fim, conta a história de cada um de nós. Se o incômodo, a reflexão, assim como tudo hoje em dia, só dura o tempo da série, cabe a você assistir e dizer.

Em tempo, fiquei me questionando se meus pais, que não possuem essa relação com a tecnologia – meu pai tem dificuldade para usar o celular no modelo mais básico – se sentiriam da mesma forma, mas não deu certo. Nenhum deles se interessou, de verdade, em ver a série e nem têm paciência para ver três episódios seguidos.


Talvez isso já seja uma resposta...




14 comentários:

  1. Olá!
    Não conhecia a séria mas achei muito interessante. Trata de um problema real que muitas vezes, nossos pais, tios, avós, nos falam que é prejudicial e nós reviramos os olhos como se eles não soubessem de nada. Porém é muito importante que se fala disso e que as pessoas se conscientizem.
    Tem como existir um mundo sem tecnologia a partir de agora? Acredito que não, já embarcamos fundo demais nessa, porém podemos moderar o modo como deixamos ela entrar na nossa vida. Fica aí o desafio, né?!
    Enfim, gostei muito do tema da série e vou procurar assistir.

    Beijos, Lara.
    http://www.psiuvemler.com.br/

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    1. Oi, Lara!
      Obrigada pelo seu comentário.
      Também não sei se podemos pensar uma vida sem tecnologia, mas com certeza precisamos problematizar esta relação. Agora, você vai ver o que é revirar os olhos num dos episódios desta série... ;)
      Beijo grande!

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  2. Olá!
    nunca tinha ouvido falar na série e ela já me instigou pelo título. E se isso não bastasse apenas a introdução da sua resenha foi capaz de me fazer parar no meio da leitura e ir fuçar o catálogo da Netflix pra ver essa série estava presente. Adorei descobrir que estava e já sei qual vai ser a próxima série que irei assistir!

    Confissões de uma Mãe Leitora

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    1. Oi, Cássia!
      Nossa! Obrigada pelo impacto! Depois conta o que achou da série.
      Beijo grande!

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  3. Não conhecia esse seriado, mas também, levando em consideração a quantidade de seriados que já vejo... fica difícil mesmo! =)
    O enredo é interessante. Vou ver com meu parceiro de séries/marido quer tentar Black Mirror.
    Obrigado pela indicação. Sua resenha está ótima!

    beijinho!

    https://literakaos.wordpress.com/

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    1. Olá!
      Tudo bem?
      Se antes eu dizia que era muito livro para pouca vida, agora também é muita série para pouca vida, rsrs. Fora que eu ainda quero produzir a minha...
      Depois me conta de você e seu parceiro de série gostaram. E obrigada pelo elogio ;)
      Beijo grande!

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  4. Olá Chris,
    Não sabia que esse seriado era assim e fiquei bem surpresa, devo dizer. Adorei saber que é um tapa na cara da sociedade e que pode ser até incômodo. Confesso que fiquei bem curiosa para ver e saber o que acontece e ri quando você disse a respeito do Primeiro Ministro da Inglaterra transar com um porco ao vivo. Acho que vou curtir o que encontrar no seriado.
    Beijos,
    Um Oceano de Histórias

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    1. Oi, Bruna!
      Tudo bem?
      Olha, é uma série surpreendente, mesmo! O burburinho não é à toa.
      Depois me conta dos seus risos, do que achou.
      Beijo grande!

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  5. Eu assisti o primeiro episódio da série e achei ok. Não é ruim, mas não me cativou muito, sabe? Acho que pelo fato de serem curtos... Não consigo me apegar aos personagens e acabo nem ligando. Abandonei no segundo episódio, por pura preguiça mesmo, mas espero retomar a série algum dia. Principalmente agora que a maravilhosa da Netflix tá produzindo mais. Tu já ouviu falar In The Flesh? É uma série de zumbis que ninguém desse mundo conhece, mas é maravilhosa! Beijos.

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    1. Oi, Felipe!
      Tudo bem?
      É um desafio, mesmo, lançar uma série que se basta, que se "resolve" no próprio capítulo. Mas acho interessante por isso, porque como se poderia dar continuidade àquilo?
      Não conheço essa In the Flash, não, mas valeu pela dica. Vou procurar. Tem zumbi, já é, rsrsrs
      Beijo grande!

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  6. Vi sobre essa série em um blog e confesso que fiquei muito interessada na trama. Parece uma daquelas histórias mais complexas, mas que pegam o espectador de jeito, gosto desse tipo de série.
    Eu não sei se assistirei ainda esse ano, pois já tenho várias em andamento, mas quem sabe ano que vem?
    No momento estou viciada em OITNB hahahha
    beijos
    www.apenasumvicio.com

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    1. Oi, Dessa!
      Anda complicado, mesmo, rsrsrs. Me conta quando assistir; quero saber sua opinião ;)
      Beijo grande!

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  7. Oii, tudo bem?
    Eu sou a louca das séries, eu estou acompanhando várias, mesmo a maioria delas estando desatualizada. Eu gostei muito da premissa de Black Mirror, apesar de achar ela um tanto quanto confusa, mas irei conferi-la para ver o que acho.

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    1. Oi, Giovana!
      Hoje em dia a gente não tem muita opção, senão enlouquecer nas séries. Eu atualizo, mas mantenho as antigas também, rsrs.
      Depois me conta o que achou.
      Beijo grande!

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Bia Coelho

Ei meus amores! Sou a Bia Coelho! 25 primaveras, mineira, mãe da Manu e da Alana, alucinada por livros. e apreciadora de bons romances! Bem vindos ao Entre Livros e Amores!

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Luanna Oi, eu sou a Luanna do Instagram @pausaparalivros, escorpiana raiz, e vou aparecer aqui com muitas resenhas de livros, além de dicas de filmes, séries... ou seja, tudo o que a gente ama. Não é mesmo? Espero que gostem do conteúdo que postarei e me sigam no Instagram para saber diariamente o que estou achando das leituras

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