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13 agosto 2017

[Série] Frontier


No século XVIII, o comércio de peles na América do Norte foi um dos grandes pontos de conflito do início do que era chamado "o novo mundo". A Hudson's Bay Company (que existe até hoje) detinha o monopólio desse mercado, porém foi perdendo espaço para comerciantes franceses e holandeses, o que deflagrou um longo período histórico de derramamento de sangue. É nesse pano de fundo que se desenvolve Frontier, a nova produção original da Netflix, em parceria com o Discovery Channel Canada.
Se você não é um profundo conhecedor de História, mas mesmo assim tem a sensação de que já viu isso em algum lugar, fique tranquilo; você já viu. Mais especificamente, no filme O Regresso, do diretor Alejandro González Iñarritu, estrelado por Leonardo DiCaprio e ganhador de três Oscar em 2016. Porém, ao contrário do filme, Frontier se propõe a se aprofundar na questão.

Com 6 episódios de aproximadamente 45 minutos, a série conta o drama de Declan Harp (Jason Momoa, que também assina a produção executiva),um ex-soldado, descendente de nativo americano e irlandês, que após perder a mulher e o filho nas mãos de Lorde Benton (Alun Armstrong), o representante da Hudson's Bay, transforma essa disputa de mercado na sua cruzada de vingança pessoal, tornando-se uma verdadeira máquina de matar.
Aos poucos você fica sabendo que tem mais gente de olho nesse mercado. O comércio de peles também é disputado pelos irmãos Brown, Samuel Grant, Elizabeth Carruthers e Grace Emberly, a dona da taberna de Fort James, que compra informações com cerveja e dissimulação e, a personagem ondetudo se converge. Existe ainda outra figura que se mostra central na trama, que é Michael Smyth (eu tenho a sensação de que é ele que conta a história), um órfão irlandês que vai parar no novo mundo de maneira acidental e se vê bem no meio dessa complexa teia de interesses.


Chegando de forma discreta (pois disputou a estreia com a aguardada Desventuras em Série), Frontier aparece como mais uma tentativa de emplacar um seriado histórico, após o cancelamento de Marco Polo. Com uma violência constante, negociações que acabam à base de machadadas (ou machadinhas), tantos dos indígenas quanto dos europeus e cenas de evisceração cheias de sangue, a produção também foi dita inspirada por Game of Thrones, ainda que se mostre, por enquanto, consideravelmente mais simples. E é esta mesma simplicidade que, para alguns críticos, compromete a série.


Com um roteiro bastante irregular, Frontier não apresenta mistérios ou surpresas. Os personagens são muito bem definidos em termos de mocinhos e vilãos, o que corre o risco de ficar estereotipado e compromete as subtramas apresentadas, cuja progressão é interrompida muitas vezes, apenas para ser resolvida de uma hora para a outra mais para frente, como pode ser visto na relação entre Harp e Smyth. Até o final da temporada os personagens são colocados em um ponto comum, mas é tanta subtrama junta e tão pouco tempo para desenvolver, que é difícil definir quem é o protagonista e cada episódio faz você sentir como se estivesse diante de um filme de duas horas, o que definitivamente mostra que assistir a tudo de uma vez, não é a melhor maneira de aproveitar esta série.
As sequências noturnas também são problemáticas. Não sei se foi em busca de um maior realismo, mas são sequências muito difíceis de enxergar, o que concorre para que a imersão do espectador e o ritmo da história sejam prejudicados (depois me conta se você forçou seus olhos tentando ver cenas importantes).

Todas essas dificuldades ficam bem claras no último episódio. Como todo enredo que é conduzido em torno de uma grande rivalidade, espera-se que o embate final seja o grande acontecimento. Porém, Frontier termina com um anticlímax constrangedor, que não resolve nenhum de seus arcos e deixa você com uma sensação de que algum capítulo foi perdido (eu voltei para continuar vendo a série e tomei um susto que já tivesse acabado!). É um final que simplesmente interrompe a ação no meio, como se o capítulo fosse dividido em duas partes, com a segunda só podendo ser vista na próxima temporada (que já foi confirmada). Basta lembrar o bochicho que deu TWD ter interrompido o massacre de Negan na mid-season.
Outra crítica que paira sobre a série é que, embora ela se proponha a contar este período histórico, ela mesma foge da História, tendo mais drama do que história. Particularmente, não foi algo que me incomodou.

Apesar de todos estes deslizes, os figurinos e as locações são bem acertados e lindas e, por fim, Frontier deixa uma boa impressão. Passado o estranhamento inicial, você se vê cativo, aproveitando a viagem; principalmente, por causa de Jason Momoa.
O ator já havia investido em séries menores, mas de alto potencial, como The Red Road, do Sundance Channel. Em Frontier, seu personagem não ganha nenhuma profundidade com o passar do tempo e sua atuação compromete e muito o episódio final. Mas aqui vai algo interessante sobre Momoa. Embora haja quem diga que na maior parte do tempo ele funciona simplesmente como o “brucutu que tem causado problemas no norte”, o forte do ator é exatamente sua presença; e é isso que, ao final, faz diferença. Esta história conta com a necessidade da aparência do personagem, o que também tem sido uma constante nos papéis de Momoa.

Não sei se um dia o veremos num papel que lhe exija maior entrega dramática, mas o fato é que vê-lo em cena é sempre um frenesi. Em Frontier não é diferente e ele passa a série olhando para baixo para conversar com os outros personagens, dominando a tela. Mas não espere vê-lo sem camisa. A história é sobre peles e numa terra que faz muito frio. A única cena em que ele mostra o físico, você quase nem vê. Ainda assim, o vigor e o magnetismo desse homem estão lá; estão sempre lá!

No mais, fica a torcida para que a segunda temporada reoriente os tropeços e nos mantenha interessados na história. Porque no Momoa... Me abana aqui!

8 comentários:

  1. Eu ainda não vi O regresso e nem sabia sobre a série, a Netflix lança tanta coisa que alguns lançamentos acabam passando despercebido, né? O autor realmente tem uma baita presença e esse é todo um diferencial. Eu também me incomodaria com as cenas escuras demais onde nada pode se ver, acaba distanciando o telespectador, espero que com a segunda temporada as coisas entrem no eixo.

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    1. Oi, Day!
      De fato, são tantas séries (e tantos livros) que é difícil se manter atualizada. O lado bom é que as produções estão acontecendo e assim, vamos torcendo e nos mexendo para o Brasil entrar nessa turma, de vez!
      Beijo grande!

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  2. Adorei o post. Sua crítica da série me deixou com mais vontade ainda de assistir. Frontier estava na minha lista para assistir, mas eu não estava muito empolgada com a série. Agora com certeza eu irei maratonas essa série o mais rápido possível.
    Beijos

    www.manuscritoliterario.com.br

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    1. Oi, Manu (perceba a intimidade)!
      Que legal que o post te animou a assistir à série. Tomara que você curta. Depois volta pra me contar.
      Beijo grande!

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  3. Não conhecia a série por motivos óbvios: assisti desventuras em série quando Frontier foi lançada. E eu não sabia que o Jason Momoa estava no elento, gosto da atuação dele, apesar de, segundo o seu texto, a atuação não foi tão boa, mas a presença do autor, sim. Eu gosto dele desde GoT, minha maratona atualmente. Acho que vou adicionar pra dar uma conferida depois.
    Uma boa crítica! :)

    www.porredelivros.com

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    1. Oiê!
      Obrigada pelos seus comentários.
      Dei risada com o seu motivo óbvio!
      É sempre um desafio, né, porque a suposta boa atuação depende de vários fatores. Eu gosto e muito de Momoa. Vamos esperar pela segunda temporadaa de Frontier e, claro, pelo Acquaman <3
      Depois me conta o que achou da série.
      Beijo grande!

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  4. Oii!!!
    Eu ainda não conhecia essa série. Na verdade estou bem por fora de séries, estou mais lendo ultimamente. Mesmo assim gostei da indicação. Gostei muito do filme "o regresso" e só de saber que a série se passa em um tempo parecido ao do filme me deixou curiosa para ver. As críticas é que me deixaram um pouco desanimada para ver. Uma pena eles terem mirado em got e terem errado um pouco o gatilho.
    Beijos

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    1. Oi, Cris!
      Referências são sempre referências, mas é sempre importante achar seu próprio caminho. Isso vale para tudo na vida. Ma veja, sim. Maiores são as chances de gostar. Depois me conta o que achou.
      Beijo grande!

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Bia Coelho

Ei meus amores! Sou a Bia Coelho! 25 primaveras, mineira, mãe da Manu e da Alana, alucinada por livros. e apreciadora de bons romances! Bem vindos ao Entre Livros e Amores!

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Luanna Oi, eu sou a Luanna do Instagram @pausaparalivros, escorpiana raiz, e vou aparecer aqui com muitas resenhas de livros, além de dicas de filmes, séries... ou seja, tudo o que a gente ama. Não é mesmo? Espero que gostem do conteúdo que postarei e me sigam no Instagram para saber diariamente o que estou achando das leituras

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